Hanko é uma cidade com cerca de 10 mil habitantes, que fica no sul da Finlândia. É um lugar de veraneio, à beira do mar. Os moradores têm um time para torcer, HIK, que está na terceira divisão. Há cerca de um mês, a equipe tem um artilheiro e ídolo brasileiro: Marcello Matrone.
Goiano de Rio Verde, o atacante de 33 anos anda famoso. É conhecido pelos jornais finlandeses como “Fenômeno da Internet”. “Todo mundo me conhece. Minhas comemorações têm saído nos jornais e estão circulando até aí no Brasil”, disse ao Blog do Boleiro.
Comemorar gol é com ele mesmo. Primeiro porque Marcello é matador, pelo menos para os padrões da terceira divisão finlandesa. Na temporada passada, ele marcou 25 gols em 11 jogos. Na atual, ele acumula 12 tentos em nove partidas. Como sempre gostou de celebrar de jeito diferente, ele precisou inovar.
“No começo, eu sambava, dava cambalhota, imitava cachorro correndo. Comecei a fazer muitos gols e cansei de sambar. Aí falei com o Alyson e com o Bruno para a gente fazer coisas diferentes”, disse. Foi a partir daí que apareceram as imitações.
Na primeira, quando o HIK goleou o LPS por 7 a 0, Marcello pegou uma peruca loira que tinha em casa e a deixou ao lado do gramado, na linha de meio de campo. Ele gravou músicas da Lady Gaga e pediu para o rapaz do som do estádio que tocasse uma delas quando marcasse gol.
Logo no primeiro, Marcello correu para a peruca e a colocou na cabeça. Imitou Lady Gaga cantando e ainda se estirou nos braços dos amigos brasileiros que jogam com ele. Bruno é armador e Alyson, zagueiro.
Naquele dia, Marcello marcou seis vezes nesta partida. “O cara do som tocava Lady Gaga toda hora. E eu só tinha uma coreografia preparada. Foi engraçado”, contou o jogador que depois passou um bom tempo no estádio posando para fotos com as crianças que tinham ido ao jogo.
O vídeo gravado por um torcedor foi postado na internet e Marcello começou a perceber que comemoração produzida dava retorno de mídia. No clássico do sul da Finlândia entre HIK e EIF (líder da terceira divisão), ele preparou outra imitação, desta vez em homenagem à inglesa Amy Winehouse.
O HIK venceu por 2 a 1 e Marcello marcou o primeiro gol. Antes do time entrar em campo – o jogo foi na casa adversária – ele levou uma peruca com penteado parecido com o da artista que morreu no último dia 23 de julho, em Londres.
“Vi para que lado a gente ia atacar e deixei a peruca dentro de um saco plástico, debaixo de uma placa de propaganda, perto da bandeira de escanteio que eu usei como se fosse um microfone. O problema é que esqueci de deixar o saco aberto e demorou um pouco para eu tirar a peruca”, contou.
Esta comemoração, num jogo em que o HIK atuou boa parte com dois jogadores a menos (“o juiz roubou e expulsou dois dos nossos atletas”), foi exibida na televisão brasileira e rodou o mundo via internet. “Deu muita repercussão”, constata o jogador.
Marcello Matrone, Bruno e Alyson já pensaram em ganhar dinheiro com as coreografias. Uma das ideias, colocada em prática, foi a de tentar chamar a atenção da montadora alemã Volkswagen. “A gente colocou o tema da vitória do Ayrton Senna e, depois do gol, corremos atrás de uma placa, sentamos e imitamos gente dirigndo o carro”, disse.
Na placa, em português, está escrito “comemore um novo Gol”, referência ao carro popular da fábrica. Detalhe: a propaganda foi criada pelos jogadores.“Mas talvez porque tivesse esta referência à Volks, esta comemoração foi pouco divulgada e acho que os caras não viram”, falou Marcello.
Há 14 anos, ele roda o mundo, jogando em equipes de pouca expressão. Ele deixou Rio Verde com 19 anos e jogou no Marrocos, Itália,lemanha e Finlândia. “Falo cinco idiomas: inglês, alemão, francês, português e um pouco de finlandês”, garantiu.
Em Hanko, Marcello divide apartamento com Bruno e Alyson, que chegaram nesta temporada. Os três almoçam em restaurantes. “Aqui a comida tem muita batata e salmão. Não aguento mais comer salmão. É sopa, grelhado, cozido, não dá. Às vezes, a gente vai para casa e prepara um arroz com feijão, batatinha frita e bife”, disse.
Ele garante que sempre soube se adaptar às novas culturas. Marcello parece meio “cheinho”, mas garante que a camisa do HIK é justa e dá falsa impressão. Ele resume sua vida assim: “Jogador tem esta vida. Ele nunca está parado em um lugar. Se tiver time interessado, ele tem que ir. Eu estou aqui na Europa há bastante tempo e fiz amizades. Isto ajuda a me manter em atividade”, afirmou.
Por isso, Marcello não pensa em parar com a bola tão cedo. O limite é a falta de gols. “Enquanto eu estiver fazendo gols, vou jogando”, falou. E quando parar, pretende voltar a Rio Verde para montar uma escolinha de futebol. Seus pais, Raimundo e Mária tocam um restaurante na cidade.
Aliás, embora já tenha ficado famoso na Finlândia, Marcello não tem tanta certeza de que ganhou notoriedade em sua terra. Por isso, na conversa com o Blog do Boleiro, ele pediu para que a “reportagem saia bem caprichada” e mandou o recado: “Como o Terra é muito acessado, com esta matéria poderíamos conseguir algum comercial ou patrocínio para as comemorações”.
Afinal, tem gente faturando com ideias semelhantes. “Os jogadores do Starjina da Islândia tiveram seus vídeos menos acessados do que os nossos e já fizeram um comercial para uma empresa telefônica da Espanha”, contou.
Marcello acha que está indo bem no mercado de gols e coreografias: “As nossas coreografias são mais criativas. Quem sabe alguém nos convide. Muito obrigado por fazer essa reportagem, porque além do talento dos jogadores brasileiros, passamos alegria depois dos gols, com comemorações ousadas como o
futebol brasileiro”, afirmou.
Por Luciano Borges – Publicado no Portal Terra
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