segunda-feira, 8 de junho de 2015

***Redes sociais banalizam as tragédias***

Divulgação de fotos e vídeos, mostrando detalhes da morte de uma jovem e do suicídio de um homem num shopping de Aparecida de Goiânia, levanta discussão sobre a repercussão de tragédias na internet 
Em meio à tragédia ocorrida no final do mês passado em plena praça de alimentação de um grande shopping em Aparecida de Goiânia, onde uma jovem foi morta com um tiro na cabeça pelo noivo que se suicidou em seguida, um detalhe chamou durante a repercussão do crime.
Em pouco tempo, em menos de uma hora depois do ocorrido, fotos com detalhes chocantes da cena do crime eram compartilhadas e circulavam livremente nas redes sociais, de forma viral. Possivelmente, quando os familiares das vítimas ainda não tinham conhecimento do fato, comentários sobre o que ocorreu no shopping já movimentavam aplicativos de troca de mensagens instantâneas como o Whatsapp.
Muitos não estavam presentes, mas fizeram questão de retransmitir as imagens da violência daquela noite. A repercussão foi tamanha que horas depois do crime, a Tag com o nome do centro de compras estava entre as dez mais citadas no Twitter Brasil e em primeiro lugar em Goiânia.
Especialistas ouvidos por O HOJE reconhecem que isso é fruto de um fascínio das pessoas por tragédias. O psicólogo forense e professor do curso de avaliação psicológica do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG), Shouzo Abe, entende que existe sim uma admiração pela violência, mas isso tem mudado. “A questão da tecnologia, isso tem exagerado essas questões. Até um pouco tempo atrás a gente tinha um respeito maior pela morte. A violência está sendo muito banalizada”, considera.
O especialista enxerga que este agravamento está relacionado a uma mudança nos valores da sociedade. Shouzo pensa que o “amor” está dando lugar ao “individualismo” e isso faz com que o direito do outro não seja respeitado. “Os familiares (das vítimas) se sentem extremamente desrespeitados, violentados. A memória deles, o sentimento deles foi desprezado, ignorado”, lembra. Shouzo acrescenta ainda que deveriam existir campanhas para uso das novas mídias já que o manuseio inadequado é fonte de problemas como esses e também de insegurança para seus usuários.
Boatos
Além da divulgação indiscriminada das imagens, fatos como esses fazem surgir inúmeras histórias inverídicas, que se não chegam a atrapalhar a polícia, podem magoar os familiares das vítimas. “Casos como esse chamam a atenção das pessoas e fazem surgir vários boatos, muitas histórias que não esclarecem nada”, complementa o delegado do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) de Aparecida de Goiânia, responsável pelo caso, Rogério Bicalho.
O professor e diretor da Faculdade de Informação (Fic) e Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG), Magno Medeiros, lembra que existe uma curiosidade natural das pessoas por fatos violentos, mas que a mídia alimenta esse sentimento quando deixa de cumprir seu papel e promove uma espetacularização dos fatos. “Lamentavelmente, a mídia tem prestado um desserviço à sociedade à medida em que ela transforma a violência cotidiana em um grande espetáculo” e emenda, “A grande regra da mídia é audiência, quanto mais violência você veicula, e quanto mais você reverte a violência em caráter espetacular, você conseguiria mais pontos de audiência”, critica o professor
FONTE: O HOJE

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