***A situação do Transporte Coletivo***

TEXTO E FOTO:PRIMEIRO DIARIO

ADAPTAÇÃO:DEOCLISMAR VIEIRA E ANGELLYTHA CRUVINEL

Oníria Guimarães/Da Redação

Diante das reclamações de usuários em relação ao transporte coletivo de Rio Verde e da proximidade de novos contratos para o serviço, o Primeiro Diário entrevistou o sr. Marcos de Melo, proprietário da Viação Paraúna que falou sobre as dificuldades que a empresa enfrenta para continuar prestando o Paraúna serviço de transporte coletivo em Rio Verde.

P.D. Há quanto tempo o sr. trabalha com transporte coletivo?

Marcos. Há cinquenta anos eu trabalho com transporte urbano em Paraúna e vim pra Rio Verde há dois para administrar a empresa que pertence a nossa família.

P.D. Qual sua opinião sobre o transporte coletivo urbano, não só o de Rio Verde, mas o do país inteiro?

Marcos.  O que eu vejo hoje no Brasil em relação ao transporte coletivo é que cada dia ele piora e está acabando.  Está acabando porque não existe incentivo nenhum para o setor, não existe uma lei sequer que beneficie o transporte coletivo.

P.D. Qual sua sugestão para que o transporte coletivo melhore?

Marcos. O que eu vejo hoje de maior problema no transporte coletivo e que poderia melhorar, em primeiro lugar seria o trânsito que complica muito a sua situação. O trânsito em Rio Verde é um dos maiores problemas do transporte coletivo, pois não há uma pista exclusiva para ônibus. Uma viagem que seria feita em média com trinta minutos, nós estamos gastando uma hora e dez, isso porque o ônibus não desenvolve sua velocidade, ele não anda, as condições de tráfico são péssimas. Outro problema é o passe livre, o grande número de passageiros que não pagam pelo transporte.

P.D. O Sr. acha que que principal reclamação do usuário seria em relação à demora do ônibus para chegar ao ponto?

 Marcos. Se o ônibus não chega no horário é claro que o usuário fica insatisfeito. É impossível para os motoristas cumprirem o horário diante das dificuldades que enfrentam no trânsito aqui em Rio Verde.

P.D. Outro problema que o sr. citou é gratuidade no transporte, explique melhor.

Marcos.  Por exemplo, o estudante hoje tem 50% de desconto, foi aprovada pela Câmara Municipal uma lei que proíbe a cobrança de passagem aos idosos acima de 60 anos; o deficiente físico, mental, renal, enfim, todos portadores de qualquer deficiência não pagam pelo transporte. A polícia militar e civil também não pagam, assim como o bombeiro, os oficiais de justiça e crianças que têm passe livre. Cito outro exemplo, todas as grandes empresas de Rio Verde, principalmente as indústrias deveriam comprar vale transportes para seus funcionários, mas elas não fazem isso, preferem contratar ônibus para transportar desses funcionários. Eu questiono: quem carrega os filhos estudantes desses trabalhadores? Somos nós. Quem transporta os idosos, pais e mães desses trabalhadores somos nós. Enquanto as empresas pagam transporte particular para os seus funcionários, nós carregamos a família desses funcionários de graça, o que eu acho um grande absurdo.

P.D. Existe uma lei que obriga o empresário a fornecer vale transporte para os seus funcionários, isso acontece aqui em Rio Verde?

Marcos.  Na realidade essa lei é muito pouco respeitada nesta cidade, tanto que as maiores empresas não favorecem aos seus funcionários o uso do transporte coletivo, preferem fretar um ônibus.

P.D. Se a sua empresa é obrigada a transportar tanta gente de graça, como fica a sua situação financeira? Quem paga essa conta? Há contrapartida por parte do município?

Marcos. É a própria empresa que arca com o prejuízo. Não há por parte do poder público nenhum incentivo, não tenho nenhum desconto em impostos, muito pelo contrário, somos muito cobrados e constantemente fiscalizados. A pressão é muito grande sobre a empresa que tem a concessão do município.

P.D. Existem ônibus clandestinos em Rio Verde?

Marcos.  Eu acredito que sim, pois todo ônibus que faz fretamento está realizando um serviço clandestino porque a lei não fala que a empresa tem que fretar ônibus, mas que deve fornecer o vale transporte para os seus funcionários. Esse problema tem sido objeto de causas judiciais, pois o funcionário está cobrando hora in tinere e o juiz está concedendo essas horas. Essas horas são de deslocamento do funcionário para sua casa em ônibus de fretamento.

P.D. Existe a mesma fiscalização para transporte de fretamento e transporte coletivo?

Marcos. Não. Eu nunca vi fiscalização para esse tipo de transporte como vejo para o transporte coletivo. Para o transporte coletivo existe a fiscalização diária feita pela SMT (Superintendência Municipal de Trânsito), já para o fretamento eu desconheço.

P.D. Quantos ônibus da empresa Paraúna circulam diariamente?

Marcos.  Colocamos nas ruas 23 ônibus todo dia. Aos sábados após as 13 horas reduzimos em 30% e domingo para 40% da frota.

P.D. Quantos funcionários há atualmente na empresa?

Marcos. Só em Rio Verde estamos com 140 a 160 funcionários diretos e hoje a Viação Parauna necessita no mínimo de 25 motoristas. Hoje temos vagas abertas para 25 motoristas e esse é um problema seríssimo que enfrentamos todos os dias, a falta de motoristas qualificados.  O maior problema hoje em Rio Verde é mão de obra, estamos sempre precisando de funcionários qualificados, principalmente de motoristas.

 P. D. Depois de audiência pública realizada pela prefeitura através da SMT para ouvir a o usuário e apresentar propostas para melhorar o transporte coletivo, o sr. acredita que o que foi proposto na ocasião pode se tornar realidade no município?

Marcos.  Não acredito que nenhuma empresa que venha para Rio Verde possa conseguir atender o que foi proposto naquela audiência. Sei das necessidades da população e do sonho em ter um transporte coletivo de primeiro mundo, mas, infelizmente isso é uma grande utopia. Ônibus com ar condicionado tem em Goiânia, mas mantido pelo governo, agora aqui é outra realidade. Ônibus que não atrase, que circule por todos os pontos em horários exatos e que ofereça tanta qualidade nos serviços, com o preço que cobramos aqui e com tantos passageiros com passe livre é impossível manter em Rio Verde. Sem falar na falta de infraestrutura no trânsito que é a nossa maior dificuldade. Gostaria muito de prestar um serviço conforme sonha o usuário, mas é humanamente impossível diante das condições que temos em Rio Verde.

Escolhi esta cidade para morar e pretendo continuar trabalhando aqui, mas com a falta de incentivo e diante destas condições está sendo muito difícil. Alguma coisa precisa melhorar tanto para a empresa como para a população, antes que a cidade sofra com a falta de transporte coletivo como aconteceu em Caldas Novas. Nesta cidade o serviço de transporte coletivo se tornou inviável.