terça-feira, 11 de setembro de 2012

***Maior acidente radiológico do mundo completa 25 anos nesta semana***

TEXTO:G1
FOTOS:O POPULAR
ADAPTAÇÃO:DEOCLISMAR VIEIRA
CORREÇÃO DE TEXTO:ANGELLYTHA CRUVINEL

Contaminação com o césio-137 marcou Goiânia, em setembro de 1987.
G1 traz série sobre a tragédia que ainda hoje atinge centenas de pessoas.



DESCRISÃO DAS FOTOS:
001:Foto de 2006 de onde era a casa do catador que pegou o aparelho de radioterapia (Foto: Cristina Cabral/O Popular)
002:Pessoas contaminadas acampadas no Estádio
Olímpico (Foto: Yoshikazu Maeda/O Popular)003:Ferro-velho para onde o aparelho de radioterapia foi levado, no Setor Aeroporto (Foto: Yoshikazu Maeda/O Popular
Na semana em que o acidente com o césio-137, em Goiânia, completa 25 anos, vítimas, familiares, governo e sociedade voltam os olhos para um passado ainda não cicatrizado. O G1relembra esta história e as implicações do caso, duas décadas e meia depois, em reportagens que serão publicadas a partir desta terça-feira (11). De acordo com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), este foi o maior acidente radiológico -- que envolve uma fonte radioativa usada em hospitais -- do mundo. O maior acidente radioativo de forma geral foi na usina nuclear de Chernobyl, na atual Ucrânia, em 1986.
Os dados oficiais e a contagem das vítimas divergem no que diz respeito ao número de mortos e de pessoas diretamente afetadas. Mas o fato é que, nos dias posteriores à divulgação da abertura da cápsula radioativa, a Cnen monitorou os níveis de radioatividade de 112.800 pessoas, no Estádio Olímpico de Goiânia.
Em 271 delas, foi constatada a contaminação pelo césio-137. Nesse grupo, 120 tinham rastros da substância em roupas e sapatos; nos outros 151 foram observadas contaminação interna e externa ao organismo. A Cnen percebeu ainda danos causados por radiação em 28 pessoas. Na época, 20 foram hospitalizadas.
No dia 1º de outubro daquele ano, um grupo de 14 pessoas que estavam em estado mais grave foi levado para o Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro. Poucas semanas depois, quatro dessas pessoas morreram enquanto se tratavam no Rio. A primeira foi Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, garota que se tornou o símbolo dessa tragédia. No mesmo dia, morreu Maria Gabriela Ferreira, de 37 anos. Naquela mesma semana, faleceram também dois jovens, de 22 anos e 18 anos. Esses quatro mortos são os únicos contabilizados pelos dados oficiais, que reconhecem ainda que outros quatro tiveram danos na medula óssea e oito tiveram síndrome de radiação aguda.
Na visão do presidente da Associação das Vítimas do Césio (AVCésio), Odesson Alves Ferreira, que teve cerca de 50 parentes atingidos e seis mortos em consequência do acidente, o número é bem maior. “Estima-se que, nesses 25 anos, 104 pessoas tenham morrido e 1.600 tenham sido afetadas de forma mais direta, entre as pessoas envolvidas com a tragédia e aquelas que trabalharam para controlá-la, como policiais militares, bombeiros e servidores públicos do estado”, avalia. Parte das pessoas que se consideram vítimas e carregam no corpo sequelas que atribuem a exposição à radioatividade ainda luta na Justiça por reconhecimento.
Contaminação
A tragédia começou quando dois jovens catadores de materiais recicláveis abrem um aparelho de radioterapia em um prédio público abandonado, no dia 13 de setembro de 1987, no Centro de Goiânia. Eles pensavam em retirar o chumbo e o metal para vender e ignoravam que dentro do equipamento havia uma cápsula contendo césio-137, um metal radioativo.
Apesar de o aparelho pesar cerca de 100 kg, a dupla o levou para casa de um deles, no Centro. Já no primeiro dia de contato com o material, ambos começaram a apresentar sintomas de contaminação radioativa, como tonteiras, náuseas e vômitos. Inicialmente, não associaram o mal-estar ao césio-137, e sim à alimentação.
Depois de cinco dias, o equipamento foi vendido para Devair Alves Ferreira, dono de um ferro-velho localizado no Setor Aeroporto, também na região central da cidade. Neste local, a cápsula foi aberta e, à noite, Devair constatou que o material tinha um brilho azul intenso e levou o material para dentro de casa.
Devair, sua esposa Maria Gabriela Ferreira e outros membros de sua família também começaram a apresentar sintomas de contaminação radioativa, sem fazer ideia do que tinham em casa. Ele continuava fascinado pelo brilho do material. Entre os dias 19 e 26 de setembro, a cápsula com o césio foi mostrada para várias pessoas que passaram pelo ferro-velho e também pela casa da família.

Algumas delas, como um dos irmãos de Devair, Ivo Alves Ferreira, foram visitá-los justamente por saberem que ele estava adoentado. As pessoas mais próximas chegaram a ganhar pequenas porções do césio, que facilmente se transformava em pó. Em casa, Ivo mostrou o pó que brilhava para a sua família. A sua filha mais nova, Leide das Neves Ferreira, de  6 anos, ficou encantada com o material e brincou muito com ele.
Vigilância Sanitária
Alertada por uma vizinha, a mulher de Devair começou a desconfiar que o constante mal-estar e doenças de pele que acometiam a família poderiam ter relação com a pedra azul que estava em sua casa. No dia 28 de setembro de 1987, uma segunda-feira, Maria Gabriela, com a ajuda de um amigo, levou a cápsula, que pesava 22 kg, em um ônibus do transporte coletivo, para o prédio da Vigilância Sanitária, no Setor Aeroporto.
A esta altura, um grupo de pessoas foi encaminhado para internação no Hospital de Doenças Tropicais (HDT), devido aos problemas na pele. A origem das doenças intrigava a equipe médica. A verdadeira origem dos problemas só foi constada no dia 29 de setembro, quando um físico que estava de férias em Goiânia conseguiu um aparelho que media radioatividade e constatou elevados níveis de radiação na região do prédio da Vigilância Sanitária. A partir deste momento, bombeiros, Polícia Militar, Secretaria Estadual de Saúde e Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) foram acionados.

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